terça-feira, 2 de abril de 2024

AS PAIXÕES DE CRISTO E A DRAMATURGIA

               Os espetáculos da Paíxão de Cristo aumentaram consideravelmente no estado do Piauí. Muitos municípios encenaram sua paixão de cristo, cada um dentro das suas possibilidades, e muitos deles misturaram atores locais com atores conhecidos, inclusive, a nível nacional. Teve espetáculos para todos os gostos.Aqui vamos nos prender um pouco sobre a dramaturgia criadas para esses espetáculos.

                   Vamos colocar três filmes, claro existem muitos outros, que para nós dão a dimensão de um bom tratamento de roteiro sobre a vida e a morte de Jesus Cristo. O primeiro é o convencional, e muito bom, filme de Franco Zeffirelli Jesus de Nazaré, aquele que ficou a imagem de um cristo de olhos azuis e penetrantes; o segundo, é A Paixão de Cristo, do ator e diretor Mel Gibson, onde temos uma violência extremada, quase escatológica em cima de Jesus, um filme chocante, e por último, o filme de Pier Paolo Pasolini, O Evangelho Segundo São Mateus, na minha concepção um dos melhores filmes de todos os tempos sobre Jesus Cristo. Porque estamos colocando aqui esses filmes, por que para mim são bons exemplos de dramaturgia cinematográfica, já que estamos tratando de uma história super conhecida, portanto, sempre adaptada.

                 Muito se tem discutido se a paixão de cristo é um drama ou uma tragédia. No sentido clássico da dramaturgia, a paixão de cristo é um drama, ou seja, o drama da vida e morte de Jesus Cristo. Isso porque, mesmo com todo seu sofrimento e sua morte  pregado na cruz, Jesus, digamos assim como herói da história, tinha o domino sobre seu destino, e poderia ter sido salvo bastaria não ter aceito todo o seu sofrimento. Na tragédia clássica o destino do personagem herói é imutável, com obstáculo intransponível. 

                 Assisti muitas paixões de cristo esse ano. Para ver o desenvolvimento de sua dramaturgia. Como já disse, teve para todos os gostos. Paixão de Cristo que se divide em três dias, e o texto se arrasta nesses três dias, fazendo com que o autor divida os dias em episódios, e tome cenas para tanto espetáculo! Muitas vezes cenas que duram apenas três minutos e outras que se arrastam podendo durar também apenas três minutos.E as que se arrastam nas cenas de choros e sofrimentos? Longe de nós falarmos aqui de atores e atrizes, pois merece um capitulo a parte. Nossa senhora!

                Enfim, não é porque se trata da Paixão de Cristo que se vai fazer um espetáculo sem emoção, apenas recontando o sofrimento de cristo que todos nós conhecemos. É preciso colocar emoção na ação, emção no drama, e emoção no teatro está numa boa escrita dramaturgica, que leva a boas interpretações e a um um bom espetáculo. A velha e boa dramaturgia. 

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quarta-feira, 6 de março de 2024

NÃO PERDI A LUTA

       

             Minha formação em Licenciatura em Educação Artística – Artes Cênicas, na UFPI, foi uma saga. Basta dizer que fui o único aluno a terminar o curso. Ele acabou quando fui formado.  Mas o que vou contar aqui é outra história. É o bom combate de quem lutou arduamente para a criação de um curso superior de teatro no Piauí. O que nunca foi criado. Perdi a luta? Pelo contrário.

            A modalidade artes cênicas, na Universidade Federal do Piauí, acabou na primeira metade dos anos oitenta. Foi quando comecei minha luta para a criação do curso superior em teatro. Uma luta solitária. O primeiro artigo sobre o assunto saiu no Jornal O Dia. Fiquei alegre com a repercussão. Depois em seminários, fóruns, congressos, minha fala era uma só: a necessidade de um curso superior de teatro no Piauí. Continuava sozinho na causa. E triste com isso.

           Fui eleito presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões – SATED-PI, criado por mim e alguns amigos, no final dos anos oitenta. Agora com um instrumento de luta nas mãos me sentia mais fortalecido. Com o SATED-PI ganhei uma vaga no Conselho Estadual de Cultura-CEC. Mais combustível para a luta. Não perdi tempo. No Conselho de Cultura do Estado comecei a discutir sobre a triste situação da classe teatral que não tinha onde se capacitar pela falta de um curso superior. Encontrei adeptos, muita repercussão. Achavam um absurdo a UFPI ter acabado com a modalidade artes cênicas, na Licenciatura em Educação Artística, e eu completava, o pior é que na nova LDB da educação exige o ensino do teatro, da dança, das artes visuais, e da música, mas a UFPI teima em não oferecer a modalidade teatro. Pelo Sindicato criei uma oficina de teatro que denominei de Núcleo da Escola de Teatro do Piauí. Todavia eu continuava solitário na ideia da criação do curso superior. Sai do SATED e o núcleo da escola de teatro não teve continuidade. Mas eu continuei na luta.

           Na luta fui convidado para dirigir o Theatro 4 de Setembro. Que oportunidade, pensei. Vou colocar o espaço do Theatro para capacitação da classe. No Theatro 4 de Setembro existia uma oficina de teatro chamada Procópio Ferreira. Conversei com a presidente da Fundação Cultural do Piauí e expliquei sobre o Projeto do Núcleo da Escola de Teatro, ela prontamente encampou a ideia. Ainda encontrei resistência do pessoal da Oficina Procópio Ferreira, no entanto, estava implantado o Núcleo da Escola de Teatro do Piauí nas dependências do Theatro 4 de Setembro. A demanda de matriculas foi imensa. Tudo bem não era o que eu queria, mas já era o começo, e também uma vitrine para a discussão sobre o abertura de um curso superior no Piauí, fosse na universidade federal  ou na universidade estadual.

                     

          O Núcleo da Escola de Teatro deu frutos. Os próprios alunos, muitos deles atuando no  teatro, começaram a discutir a necessidade do curso superior, e ajudavam a difundir a proposta. Minha passagem como diretor do Theatro 4 de Setembro foi rápida, pela mudança de governo. Com isso teve fim o Núcleo da Escola de Teatro. No entanto, surge a cobrança de muitos artistas pela criação do curso superior na área. Eu não estava mais sozinho na luta. Tinha sido presidente do SATED-PI por três vezes e não queria mais entrar naquela luta. Todavia precisava de um instrumento para continuar a reivindicação do curso. Voltei a ser presidente do SATED-PI, e coloquei no papel toda a sistematização do que se pensava sobre um curso superior de teatro no Piauí.

         Fui ao Conselho Estadual de Cultura levando a proposta ao presidente, o Professor Manuel Paulo Nunes, pedindo que o CEC desse um parecer sobre o projeto. O parecer foi feito pelo Conselheiro, o ator Maneco Nascimento, muito bem argumentado a favor da abertura do curso superior de teatro. Governava o    Estado do Piaui no seu primeiro mandato, Welington Dias. Com o projeto esboçado e o parecer do CEC solicitamos uma audiência no Palácio de Karnac, para solicitar ao governador a abertura do curso superior de teatro na UESPI. Convidamos alguns colegas da classe teatral para a audiência e fomos bem recebidos em Karnac. O governador prontamente atendeu a reivindicação encaminhando o projeto para a reitoria da Universidade Estadual do Piauí. Tudo registrado pela assessoria de imprensa, com direito a reportagem em

jornal.

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          A euforia tomou conta de todos nós agora na luta. Rapidamente marcamos audiência com o Reitor da UESPI, Doutor Nouga Cardoso e fomos ao Palácio Pirajá em comissão de artistas. Fomos bem recebidos pelo reitor e pela a Pró-Reitoria de extensão. A proposta do curso superior foi discutida e muito bem recebida pela Reitoria. Saímos exultantes! Mas o tempo passou e nada. A UESPI não deu sinal de que encamparia a abertura de um curso superior de teatro. Balde de água fria. No entanto, nada de desistir.

         Foi quando pensamos em realizar um seminário para discutir a questão da profissionalização do artista de teatro no Piauí. O evento denominado de Seminário: Teatro e Profissionalização,  foi realizado pelo SATED na Sala Torquato Neto, do Club dos Diários, com sucesso. A palestra de fundo foi feita pelo Doutor em Artes Cênicas Professor Arão Paranaguá, com a participação de representantes de órgãos culturais do Estado e do município. O Seminário teve boa repercussão, chegando a Secretaria Estadual de Educação, onde era secretario, o professor Antonio Jose Medeiros. A luta estava viva!

           Mas eu precisava sair da direção do  SATED-PI, era uma decisão minha não prosseguir mais naquela labuta de classe. No entanto, como último ato de minha gestão realizamos o I Congresso Estadual do SATED, onde seriam discutidos vários temas e, claro, a abertura do curso superior de teatro. No último dia do evento adentra na Sala Torquato Neto, do Club dos Diários, o professor Antonio José Medeiros, Secretario Estadual de Educação e eu o chamei para a mesa. Surpresa para todos! O professor leu o decreto do governador do Estado criando a Escola Técnica Estadual de Teatro Professor José Gomes Campos. Se eu sabia? Sim, já tinha conversado com o professor, só não esperava que fosse tão rápido. Emoção e lágrimas. Tudo registrado.

           Fui nomeado diretor da Escola que ainda não existia. Implantamos a escola e a primeira turma formada em Técnico – Ator/Atriz saiu em 2008, com 36 alunos. Foi um passo gigantesco. Mas a luta por um curso superior não parou. Foi então que recebemos um recado da professora Ercilene Costa, da UESPI, que tinha tomado conhecimento de nossa proposta entregue a reitoria daquela instituição. Novas perspectivas se abriam. Arregimentamos alguns companheiros do teatro. A professora queria sistematizar o projeto para apresentar oficialmente a reitoria. Entre as pessoas presentes na discussão com a professora eu e o ator Adriano Abreu ficamos de esboçar o projeto do plano de curso, seria formação em Licenciatura em Teatro. Todavia, durante as discussões com a comissão de artistas a professora Ercilene veio a falecer. Novo abalo. Mas não deixamos de trabalhar no Projeto do Plano de Curso. Veio a ideia de partimos para a Universidade Federal do Piauí. Uma reunião com o reitor da instituição foi realizada com a presença de inúmeros artistas de teatro. A ideia foi discutida, e muito bem recebida. Novas fotos para a posteridade. A reitoria nos encaminhou para uma conversa com o Departamento de Educação Artística da instituição. Ali encontramos resistência, portas fechadas. Uma grande decepção. Desistir jamais!

         Do encontro com a professora Ercilene Costa muito material sobre formatação de curso da UESPI foi disponibilizado para nós. E assim, com toda nossa ingenuidade, porém com grande determinação, criamos um esboço do que seria um plano de curso superior em teatro. Dessa forma, criamos coragem e agora com um documento mais 

 elaborado, e com a memória da professora Ercilene, partimos novamente para a UESPI. A entrega do documento deu-se numa solenidade super concorrida com a presença de inúmeros artistas de teatro e do secretario de Estado da Cultura deputado Fábio Novo. O projeto foi protocolado. Fotos lindas e emocionantes!

           Obviamente que o projeto, apesar de ter sido criado com base em outros cursos superior de teatro de universidades brasileiras, carecia de melhor formatação dentro dos princípios que regem os cursos da UESPI e das leis que regem os cursos superiores. O importante foi que com a entrega desse documento a classe teatral passou a cobrar, de forma mais sistemática, a abertura do curso. E nós sempre erámos chamado para discorrer sobre o tema em encontros da classe. Veio então o mais forte indicio de que finalmente o curso sairia, quando fomos chamados pela UESPI para discutir o tema, agora encabeçado pela coordenadora do CCECA - Centro de Ciências da Educação, Comunicação e Artes, Valdirene Sousa. Nessa reunião foi criada uma comissão oficial da UESPI formada por professores da instituição e pessoas da comunidade. Ficou decidido também que o curso seria de teatro e dança, no formato de Licenciatura.

           A comissão instituída pela UESPI foi formada pelos professores Luciano Melo, Kácio Santos, Feliciano Bezerra, Socorro Machado e Dalva Stela, e pela comunidade Aci Campelo, dramaturgo; Moises Chaves, ator; Augusto Neto, ator  e Arão Paranaguá, doutor em artes cênicas. A coordenação da comissão foi entregue ao professor Kácio Santos. A comissão se reuniu inúmeras vezes no CCECA. O Plano de Curso foi finalizado, optando-se, em primeiro lugar, pela concretização da Licenciatura em Teatro pelo avanço nas discussões. Com o Projeto do curso superior em teatro concluído, agora sob a responsabilidade do próprio CCECA da UESPI, partiu-se para as estancias superiores. Todos os esforços da comissão foram feitos. Todavia, pasmem, o Projeto não andou, ficou parado nos labirintos da UESPI.  Portanto, o Estado do Piauí continua como um dos únicos a não oferecer um curso superior em teatro para um público de grande demanda.

         Se essa história não é uma saga, é quase uma! Perdedor, eu? Absolutamente! Enfrentei todos os combates possíveis! E fiz o bom combate. Continuo na luta. O Piauí precisa!